Por Cristivan Alves/ Contribuição Tiffany Higgins

 

        III Encontro de Mulheres Quilombolas da Regional Tocantina. “A temática Principal fez a seguinte reflexão “A Importância das Mulheres na Construção do Protocolo de Consulta”. Nos dias 25 à 27 de Março, na Comunidade Quilombola São José de Icatu, no Município de Mocajuba, Pará. O encontro contou com participação de diversas lideranças mulheres quilombolas da região.

            Racismo, Machismo, exclusão e invisibilidade, este são alguns dos principais impactos históricos que as mulheres quilombolas sofrem, e na pandemia esses problemas só aumentaram. Vindo também á depressão (problemas de saúde psicológica e física) causada pelos problemas que atingem seus territórios, a exemplo disso, pode-se citar o constante ataque dos grandes projetos na Amazônia. E as nossas guerreiras Amazônidas se instrumentalizam politicamente de união e informação para defender seus territórios.

            Mulheres Quilombolas da Comunidade de Icatu diante do terror da pandemia do Novo Coronavírus em 2020 passaram por grave momento de depressão, então com isso começaram reunir e criaram o grupo de mulheres, no mesmo ano foi feito o primeiro intercâmbio. Em 2021 ainda com graves crises da pandemia no mundo e as mulheres ainda no período em crise psicológica, mesmo assim continuaram de forma online reunindo e intensificando as lutas por garantias de direitos.

               O encontro foi um tempo e um espaço para as mulheres terem o seu próprio espaço e lugar de fala. Algumas comentaram que usualmente não falam nos encontros. Para outras, foi a primeira vez que assistiram um encontro de mulheres, e foi uma experiência impressionante e empoderante. A liderança Espiritual da Comunidade Quilombola de Abacatal, Vanuza Cardoso avisou as mulheres, “Para eu defender o meu território, primeiro tenho que conhecer o território do meu ‘eu,’ este território do meu corpo.” Esse encontro ajudou a fortalecer os conhecimentos e as vozes das mulheres quilombolas no Baixo Tocantins, e com certeza vão levar ideias novas aos seus próprios quilombos. Construíram e fortaleceram os laços de união entre os quilombos, que serão essenciais na defesa do território diante de várias ameaças.

            Esta organização de mulheres nesta micro região no estado do Pará estão travando de forma organizada luta em defesa dos seus territórios, defesa principalmente contra os grandes projetos que rodeiam essa região, como é o caso da dragagem do Rio Tocantins que possivelmente afetará 163 comunidades Quilombolas se for aprovado o trecho Marabá-Baião da proposta hidrovia Araguaia Tocantins. A obra ainda está na fase de consideração da licença ambiental. O protocolo de consulta pode ser mais uma ferramenta para proteger o território quilombo, com a criação de regras que uma empresa ou um órgão tem que cumprir para fazer a consulta com comunidades a serem atingidas, requerida pela lei brasileiro e internacional (Convenção 169). Este encontro foi realizado por mulheres com a proposta de instruí-las para a criação do protocolo de consulta dentro do seu território. A liderança quilombola Maria José Brito diz que: “Esse encontro vem fortalecer as mulheres quilombolas do Baixo Tocantins e o seu empoderamento”.

            Maria José diz também que: “O Projeto de dragagem vem ameaçando todo o povo do Baixo Tocantins, principalmente o ribeirinho, aqui no rio Icatu vai secar, essa luta vai ser e é incansavelmente a gente não vai desistir, porque corre o risco de nossos filhos nossos netos não vão ver nosso rio, isso é muito ameaçador para esse povo como nós que estamos na beira do Rio Tocantins.”

                    A secretária geral da CUT Nacional, Carmen Foro, assistiu o grupo que debateu a proposta hidrovia. Ela insistiu sobre a importância das mulheres e as comunidades se organizarem para evitar a morte do rio Tocantins, e não se permitirem a ser divididas ou iludidas pelas falsas promessas de compensação. Neste grupo também contou a  liderança do MAB Belém, Jaqueline Damasceno, que cresceu do Rio Tapajós, as suas próprias lembranças de como os portos de soja em Itaituba causaram impactos fortes. Os pescadores não podem se aproximar os portos, operados pelo Hidrovias do Brasil, que tem uma segurança forte. Ela falou que, com os motoristas do grande número de caminhões passando todo dia, a prostituição e assaltos aumentaram, com prejuízos às mulheres e às crianças.  Terras perto dos portos foram compridas para o agronegócio, aumentando o preço das terras e impossibilitando que os moradores possam comprar terras. Hilário Moraes do Malungu, e mulheres quilombolas no encontro, falaram que, por causa do proposto canal industrial, já no Rio Tocantins a gente vê esta compra de terras perto dos quilombos para a implantação da soja, aumentando a pressão sobre as comunidades.

            O jornal Resistência entrevistou também a Quilombola e Ribeirinha de Mangabeira, Maria Lucia Vieira, diz que: “Esse projeto trará para nós muitos impactos, muitos prejuízo, principalmente nos que moramos a margem do rio Tocantins, nós seremos as pessoas que são mais impactados com estes projetos”. Maria Lucia afirma que: “Eu, por exemplo, sou filha de pescador, foi criada com alimentos tirados dali de dentro do rio. Com esse projeto a gente vê que nossas próximas gerações serão afetadas”.  “É um grito nosso não Araguaia Tocantins e sim a vida”! diz a Quilombola Ribeirinha Maria Lucia.

Mulheres Quilombola Presente

           Nesta fornada organizada por Mulheres Quilombolas da Regional Tocantina, contou com a participação massiva das mulheres e nem tanto de homens de: Limoeiro (ilha aracá) dos Quilombos de: Costeira, Terra da Liberdade, Bailique, Umarizal, Moju, Mupi Torrão, Itabatinga, Igarapé Preto, Fança, Ilha Grande de Cupijó, Abacatal, Cupu, Santa fé, Santana, Mola, Sucuriju, Caldeirão, Tambaí, Nova esperança, Engenho, Calados, Campinho, São Benedito e Arirá.

Foto: Cristivan Alves